O post que segue é um comentário feito po Saulo Said no post anterior. Tomei a liberdade de reproduzi-lo pela coerência e boa argumentação.Existem alguns pontos sobre a onda de protestos contra o governador Arruda que precisam ser entendidos mais detalhadamente.
Em primeiro lugar considero que a situação é gravíssima e que são fortes as evidências de corrupção praticadas pelo governador e pelo alto escalão do executivo e por membros do legislativo.
Porém, será só contra corrupção que os manifestastes lutam? A cúpula do DCE da UnB que, como todos sabem, é petista, não se mobilizou com o mesmo ímpeto contra o escândalo do mensalão do PT. A corrupção é de fato um dos grandes desafios que a democracia brasileira precisa superar. Mas combater a corrupção é combatê-la onde quer que ela se manifeste e não apenas quando os envolvidos são de um partido opositor.
O mensalão do PT foi muito mais grave , pois envolvia a cúpula do partido em escândalos de financiamento ilícito de campanha, fraude em licitações com a SMP&B e a compra de parlamentares de oposição. Isso sem falar que o sr. Duda Mendonça, "marketeiro" da campanha de Lula recebeu dinheiro de caixa 2.
Mudando o objeto de análise (mas não de assunto), gostaria de tratar da crença messiânica dos manifestastes. Gritar "Fora Arruda" não resolve o problema e nem ajuda a resolver. Todos estão apressados em ver o ex-democratas fora do governo, mas o sadio funcionamento do processo democrático pressupõe apuração, acusação, defesa e julgamento.
Se tudo isso demora e os manifestastes não suportam esperar, isso mostra que eles estão comprometidos com uma democracia totalitária, onde não existe lei, liberdade ou Estado de Direito. Pensam que a simples vontade deve derrubar quaisquer procedimentos jurídicos (considerados lentos e burocráticos), esquecendo-se de que o mundo já experimentou os resultados desastrosos desse tipo de Democracia (vide totalitarismo).
A evidência de que o Governador, secretários e parlamentares infringiram a lei não dá aos manifestastes o direito de fazerem o mesmo. Trancar uma avenida é uma decisão séria que não cabe a um grupo de 1.600 pessoas. Protestar é um direito, mas não é um direito soberano que esmaga quaisquer outros direitos de outras pessoas.
E, para entrar no último assunto, gostaria de lembrar que a forma como os atuais protestos vem sendo conduzidos apenas sangram a imagem política de Arruda (o que é conveniente a certos partidos), muito embora pouco contribua para a sua saída. Um movimento contra a corrupção deveria encontrar alternativas para sanar o grave impasse político instalado no momento. Caberá a uma câmara legislativa composta por envolvidos no escândalo a tarefa de julgar a perda do mandato dos seus, do governador e do vice-governador. O que fazer diante do problema?
Usar a coerção para intimidação dos parlamentares, ou ocupar a Câmara legislativa não são soluções. A sociedade brasileira não é muito receptiva a esse tipo de radicalismo, ainda que concordem com a demanda. Caso os manifestastes encontrem uma solução jurídica para o problema, que tenha respaldo na legislação brasileira, ai sim conseguiríamos algum resultado. De posse de uma solução jurídica factível, poderíamos nos organizar para levá-la adiante.
Até o momento, o movimento "Fora Arruda" é apenas a manifestação de repúdio, cujos métodos de ação têm sem mostrada tão pouco republicanos quanto os dos envolvidos no escândalo de corrupção.
A polícia, por sua vez, foi truculenta , mas isso não significa que os manifestastes estejam certos. Ambos se excederam no gozo de suas prerrogativas. E se bem conheço os alunos da UnB, não duvido que muitos tenham insultado os policiais ou tenham se mantido parados diante do avanço da polícia. O sonho de ser um mártir, um perseguido, um oprimido é motivo de orgulho para muitos de nossos colegas. Confere a eles um sentido de viver, uma certa importância política e a glória pela "luta".