sexta-feira, 1 de junho de 2012

Carta Aberta ao Reitor da UnB

                                                                                                                      Atlanta, 1º de junho de 2012.

A Vossa Magnificência o Senhor
JOSÉ GERALDO DE SOUSA JÚNIOR
Reitor da Universidade de Brasília.

 Estimado Professor,

 Durante dois anos tive a honra de servir à comunidade discente da Universidade de Brasília como seu representante no Conselho Universitário. No mesmo período, pude observar o modo como V.Mag.ª conduziu os trabalhos daquele egrégio órgão. Sua presidência foi sempre marcada pela tolerância e diálogo. Mesmo nos momentos de discordância, vi na conduta de V.Mag.ª o respeito pelas opiniões divergentes e a opção pelos métodos que garantiam o maior consenso e legitimidade possíveis nas cizânias mais severas da comunidade universitária.

 Foi assim, por exemplo, que se deu a discussão do processo de recredenciamento da FINATEC, que tomou diversas sessões do Consuni e foi debatido à exaustão - e em que, à despeito das paixões políticas, todos puderam prestar seu apreço pelo brilhante relatório do Prof. Nigel Pitt. Aquele processo culminou com um voto histórico de V.Mag.ª, que ratificou uma indicação minha para que um estudante compusesse o Conselho Consultivo daquela respectiva Fundação.

 É por ter trabalhado ao lado de V.Mag.ª e por ter tido uma experiência extremamente positiva nesse aspecto que me causou estranheza ver o modo como foi conduzido o Conselho Universitário na tarde de hoje. Não é compatível com a imagem que tenho de V.Mag.ª uma postura usualmente descrita como a de se “tratorar” os Conselheiros em suas deliberações. Vi V.Mag.ª, no uso das atribuições de Presidente do Conselho Universitário, afirmar que indeferia o encaminhamento de um Conselheiro por “pedagogia”. É emblemático que em uma reunião em que se discute a paridade na Universidade o Reitor tenha se esquecido que os Representantes Discentes são membros plenos daquele Conselho e que não compete ao Reitor, naquele ambiente, educá-los - mas sim respeitá-los como seus pares. Enquanto essa mentalidade institucional paternalista for reproduzida, nenhuma paridade será verdadeiramente alcançada.

Como V.Mag.ª, tenho júbilo no resultado de hoje, e vejo a manutenção da paridade como uma vitória. Entretanto, entendo que existem algumas coisas são mais importantes que vitórias políticas circunstanciais. O respeito mútuo e o apreço às normas e ao amplo diálogo democrático são mais que mero formalismo - são eles o único método para a construção de consensos em temas controversos e para avanços progressivos na comunidade universitária.

Vi V.Mag.ª construir o último capítulo de sua história nos quatro últimos anos. Não foi, contudo, diminuindo aqueles que são, na qualidade de Conselheiros, seus pares, que V.Mag.ª fê-lo. Infelizmente, a postura de V.Mag.ª na reunião de hoje, ao invés de conduzir à construção de uma universidade mais democrática e se marcar como um Ode à Paridade, reforçou a hierarquização institucional em um dos poucos espaços em que ela não deveria existir. Em minha opinião, essa postura não condiz com sua história e sua gestão. Por isso, escrevo essa carta.

Aproveito o ensejo para renovar meus mais sinceros protestos de estima e consideração.

Respeitosamente,

Carlos André Bezerra de Góes
Bacharel em Relações Internacionais pela UnB
Ex-Representante Discente no Consuni (2009-2011)

Um comentário:

Blog da Liberdade