quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Manifestação, parte final.


Como prometido, e para encerrar o assunto, segue o que vi:

1-Cheguei na manifestação de quarta passada por volta de 11:20h. Até o momento da minha chegada a manifestação se mantinha ordeira, com os muito éticos do PT/CUT e amigos no carro de som bradando contra o GDF. Não apenas foi difícil ouvir todo o cinismo de quem silenciou diante de ou defendeu um dos mais escandalosos casos de corrupção de nossa história: mensalão. Difícil também foi engolir que a gênese de todo o mal, de toda corrupção, era o capitalismo. Que não poderíamos esquecer que o governo que estava aí tinha um "projeto neoliberal" e mais cobras e lagartos. Enfim, é elevado o custo moral de participação em um evento em que você fica sob a bandeira dessa gente (tanto é que alguns órgãos de imprensa veicularam que a manifestação era organizada pela CUT).

Porém, mais do que difícil, verdadeiramente revoltante, foi ver uma faixa do PSOL ser tomada das mãos de alguns manifestantes e ser destruída por Ton-Ton MaCUTs. O que estava escrito? "Fora todos os mensalões. Fora mensalão do Lula e mensalão do Arruda." A indignação é tão seletiva quanto a tolerância.

2-O erro começou quando alguns manifestantes, em sua maioria estudantes, terminaram de tomar as pistas do Eixo Monumental no sentido CN-Rodoferroviária e bloquearam todo o trânsito, extrapolando o direito de manifestação e agredindo o direito de ir e vir dos motoristas. Ali mesmo a PM deveria ter feito algo, impedindo, sem brutalidade, que os estudantes tomassem todo o eixo.

3-A cavalaria se aproximou. Acredito ter ocorrido algum diálogo entre o comando e manifestantes e estes começaram a se retirar aos poucos quando, de repente, correram p/ o sentido oposto do Eixo, impedindo agora o tráfego na frente do TJDFT. A PM veio atrás, lentamente, alguns minutos depois.

4-Após um tempo impedindo o trânsito, creio que uns 20 min, ocorreu o primeiro ato por parte da PM que qualifico como descabido e impensado. Enquanto os manifestantes se retiravam p/ a grama, liberando o trânsito, a cavalaria passou a toda pela pista, quase ferindo algumas pessoas. A revolta e as vaias vieram como resposta. A cavalaria, novamente, passa cortando o eixo a toda, e quase acerta alguns manifestantes. Alguns objetos leves foram atirados contra a cavalaria em resposta, mas era coisa insignificante, como tampa de isopor. Aqui começa o descontrole.

5-Os manifestantes ficam revoltados e reocupam as faixas na frente do TJDFT. O BOPE é chamado e chega um tremendo aparato (dezenas de homens com balas de borracha, cães, Caveirão com jato d'água...). Como minha hora já chegava e não gosto de bala perdida, nem que seja de borracha, comecei a me retirar no sentido do Nilson Nelson. Foi aí que, quando já estava no estacionamento do Ginásio vi os manifestantes retornarem pro outro lado do Eixo, andando entre os carros (o tráfico estava pesado) e distribuindo adesivos. Ao que consta, iriam para a Rodoviária.

6-Foi então que a PM barbarizou com bombas de gás, balas de borracha e tocou os manifestantes de volta pra altura do Buriti na porrada. As cenas de descontrole estão bem documentadas.

7-Algo diferente poderia ter sido feito pela PM? E pelos manifestantes? Claro! Os dois lados erraram, mas me parece muito menos aceitável o erro da PM, que deveria ser mais profissional, mais bem preparada e que, claro, contava com poder de força, muito, muito superior.

3 comentários:

Anônimo disse...

O fato de o poder da PM ser superior não o desqualifica. Pelo contrário, a PM usa a força legitimamente, afinal serve governos eleitos democraticamente. Já os manifestantes/baderneiros usam força sem legitimidade nenhuma, e o fazem não em nome da honestidade, mas em nome de seus projetos políticos facistas em que o crime não é a corrupção, mas a divergência política.

Deco disse...

Não é que o desqualifique. Mas o que se espera é que justamente por ser superior, por ser legitimado pela vontade dos cidadãos, pelo estado democrático, tal poder de força deveria ser usado com zelo TOTAL, não se aceitando o menor desvio de conduta, e punindo esse desvio com o máximo rigor (dentro da legalidade) sempre que ocorrer.

Góes disse...

O que se espera é que a autoridade constituída não abuse de seu poder. O poder estatal deve ser controlado exatamente para evitar atentados contra as liberdades individuais.

É verdade que a PM deve intervir para impedir que sejam violadas liberdades e direitos de outros cidadãos - entre os quais se encontra o direito de ir e vir. Mas deve exercer suas prerrogativas sem abuso de poder e sem uso excessivo da força. Foi esse tipo de abuso que vimos com as cenas de campo de guerra presenciadas no Eixo Monumental.

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