quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Algumas explicações sobre nossa posição no trote

Depois do último texto sobre o trote, surgiram alguns questionamentos, tentarei comentar agora os que me pareceram mais relevantes.


1 - Se a Aliança pela Liberdade quer punir excessos mas não acabar com a recepção, por que não usa outra palavra que não 'trote', a fim de acabar mal entendidos?

Essa é uma ótima sugestão e agradecemos quem a fez pois mostrou uma posição aberta ao diálogo e a posições divergentes, intrínseca a qualquer discussão democrática. Infelizmente, porém, não acho que seria o ideal para nós acatá-la.

A palavra trote realmente está ligada a abusos (que têm que ser combatidos), mas está também ligada a uma prática que a maior parte dos estudantes aprova: às brincadeiras e à sujeira. Se desistíssimos do termo trote e tentássemos construir um outro, não estaríamos defendendo a prática que nossos eleitores aprovam, mas inventando uma outra prática que tem pouca chance de se adotada por outros em detrimento do trote como boa parte dos calouros quer.


2 - Não há liberdade de escolha em ser sujado ou não quando você está no meio de uma multidão tentando ver o resultado do vestibular.

Claro que os ovos e farinha não perguntam pra ninguém se este quer ser acertado. Qualquer um que esteja no meio da multidão no teatro de arena e procura nomes de aprovados corre o risco de ser alvo da sujeira. Mais que isso, não corre o risco, mas sim tem a certeza de que será acertado. O maior símbolo da aprovação no vestibular são os calouros sujos na hora do resultado, qualquer um que tenho feito o vestibular sabe disso. Calouros sujos estão nas propagandas de vários cursinhos. Quem vai ver o reultado na hora sabe que vai se sujar, não é um risco que ele vai correr, é um certeza, quem for ver o resultado na hora vai se sujar.

Como alguém pode ter liberdade de não se sujar com essa certeza? É simples e claro, veja o resultado de um computador. Pode ser em casa mesmo ou até na UnB. Não quer se sujar não vá pra multidão, simples assim.

Isso leva ainda a outra conclusão. Se quem está na multidão quer se sujar, quando alguém tenta impedir que eles se sujem (contra sua própria vontade) estão cerceando a vontade dos calouros. Ações contra a sujeira na recepção de calouros cercea a liberdade dos calouros com a "finalidade" de acabar com um trote que não tem nada de violento e nem nada de degradante.


3 - Colocar a responsabilidade de regular o trote e punir excessos é onerar ainda mais a reitoria.

Sem dúvidas com mais um dever a reitoria fica um pouco mais atolada. Mas não fomos nós que sugerimos que a reitoria regulasse as práticas sociais na universidade, isso já era dever da reitoria. Nós apenas sugerimos o meio que acreditamos ser o melhor para intervir nessas práticas.

Prova disso são os livretos distribuídos pela Administação da UnB sobre trote e o site http://atitudesuniversitarias.wordpress.com/ em que a reitoria faz uma consulta pública para editar normas de convivência universitária (incluindo festas e trotes). E quem fará que estas normas, assim como as já existentes, sejam aplicadas? Obviamente isso também é trabaho da reitoria.

Agora, se a reitoria quer proibir o trote no resultado do PAS e do vestibular por ser uma prática degradante, nós nos sentimos na responsabilidade de discordar, afinal, qual é a humilhação em sujar quem quer se sujar?


4 - A Aliança pela Liberdade na verdade defende os abusos e excessos praticados no trote.

Obviamente não defendemos. A Aliança pela Liberdade não defende nada que vá contra liberdades individuais, seja degradação moral, seja ser obrigado a participar de um trote contra a própria vontade.

Sobre isto, publicaremos em breve um texto explicando mais detalhadamente as medidas que sugerimos para que o trote seja livre e sem abusos.

7 comentários:

Anônimo disse...

Davi,
Que eu saiba o dia do resultado do vestibular não é o dia de se sujar, é o dia de ver o resultado do vestibular. Ainda existe gente que passa por lá para ver se um conhecido passou e tal.
Dizer para a pessoa que não quer se sujar para ver o resultado em casa, aí sim é cercear. Pois a finalidade dos murais é a de exibir o resultado do vestibular. Se a finalidade dos murais foi alterada e não é mais ver o resultado do vestibular, provavelmente esse formato será repensado. E se a reitoria tirar, ai sim foi cerceado de vez das pessoas não precisarem ver só no computador.

Quando você diz que as pessoas com placas cerceam o direito de quem quer se sujar, ignora que havia um outro mural para quem queria se sujar, e a maioria das pessoas ESCOLHIAM se proteger atrás das placas para NÃO SEREM SUJAS.

Logo essa posição de vocês de quem estava lá é porque queria se sujar, e as pessoas de placa as impediam, ignora a existência das muitas pessoas que não queriam se sujar e das pessoas que foram lá, queriam se sujar, e, mais ainda, CONSEGUIRAM porque era só a pessoa ver no outro mural.

Bianca Bittencourt disse...

Outra pergunta para vocês responderem: por que os trotes têm que acontecer no Minhocão? Por que eles têm que acontecer no Campus? Por que estes "ritos de boas-vindas" não acontecem nos churrascos/festas de inauguração de semestre? Será que é porque é mais divertido humilhar com espectadores? Se for assim, por que eu sou obrigada a presenciar essas cenas ridículas todo o início de semestre?

Daniel Fonseca Neves disse...

Que triste. Vocês acharam ótima a sugestão de deixar de usar a palavra "trote", mas, mesmo assim, não vão segui-la. Como vocês são covardes.

Vocês estão com medo de mudar o que é tradicional. Não têm coragem, nem gana, nem presença de espírito para tomar a frente e fazer o que é diferente. De fazerem o que acham que é certo. Essa mudança seria uma guinada até interessante, uma pequena revolução na visão do processo. Mas vocês estão com medo... Pois é disso que se alimenta o conservadorismo e os conservadores.

Ou então por que vocês acham que existem conservadorismos? Porque o mundo é dividido entre bons e maus? Parem de assistir Capitão Planeta. Existe, em parte, porque as pessoas têm medo do novo, de inovar, querem o mesmo. E, vocês, com medo da possível reação de "nossos eleitores", não apoiam uma ideia que acham ótima! É o cúmulo do absurdo e da covardia!

Acabou a conversa. Talvez vocês ainda não tenham dado conta disso, mas vocês só são mais uma pecinha dentro desse complexo de conservadorismo que é a nossa sociedade, e reproduzem essa dinâmica fazendo o que o sistema todo faz. Vocês são incapazes de dar uma oitava.

"Blog da Liberdade"... vocês estão amordaçados e nem sabem disso.

Como são covardes.

Saulo Said. disse...

Daniel Fonseca. primeiramente parabéns pelo comentário. Apesar da acidez da crítica, devo reconhecer que é bastante coerente.

Esse texto é uma reposta do Davi à alguns mau entendidos que surgirão no texto anterior.

Pessoalmente, acho que o não uso da palavra trote traria mais clareza ao debate sobre o tema. A princípio, segundo o dicionário aurélio, a ideia de trote está mais ligada a brincadeira e zombaria dos veteranos com os calouros. Como a mídia só noticia as práticas que fogem a esse padrão, fica parecendo que trote é agressão, violência, imposição e etc.

Pra mim trote é recepção dos calouros. E a recepção pode se dar de mil formas: na História fazemos gincanas educativas, sem sujeira, sem gritaria, sem elefantinho e coisas do gênero. O pessoal da engenharia entende trote de outro modo, o da arquitetura de outro...

Caro Daniel, você pode se incomodar com o fato de que não somos tão incisivos quanto você gostaria. Mas, querendo ou não, temos de navegar entre recifes: de um lado, precisamos coibir abusos que ocorrem nas "recepções"; de outro, precisamos defender a liberdade dos alunos de promoverem ou participarem de formas de recepção que (pessoalmente) muitos de nós não aceitaria.

Mas será que, porque eu não aprovo e não gosto, devo impedir que aqueles que aprovam essas recepções comemorem a sua maneira?

Como disse Mario Vargas Llosa em um artigo do ano passado: "Mas também me desagradam profundamente as pessoas que assoam o nariz na minha frente usando os dedos, que palitam os dentes ou comem frutas com sementes, caroços e cascas, e nunca me ocorreu defender uma lei que as proíba de fazê-lo e as castigue com a prisão caso a desrespeitem". Disponível em:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101107/not_imp636132,0.php

Por outro lado, acho que você exagerou demais. É muita eloquência para pouca relevãncia: deveríamos estar discutindo o conteúdo dessas recepções, trotes, boas vindas ou qualquer nome que se queria dar. Se ficarmos discutindo nome, será apenas uma espécie de divertimento intelectual (para não falar outra coisa...) que não levará a lugar nenhum.

Fabio disse...

Realmente não nos posicionamos como salvadores da pátria, como os bastiões da vanguarda que iluminará as massas. Isto porque não acreditamos nessas figuras caricatas, porque sabemos que super-heróis são figuras de gibi. Na vida real homens com toda a gana e presença de espírito para mudar tudo hoje, são Gadaffis, Fideis e Stálins amanhã. Acreditamos na democracia e no diálogo plural, acreditamos na liberdade individual e no seu funcionamento na base de entedimentos recíprocos que, enquanto não gerarem graves danos a terceiros, não merecem a intervenção daqueles que se autointitulam voz do futuro, a voz melhor.

Por isso fazemos o que acreditamos. A mudança da expressão trote poderia evitar mal-entendidos na discussão, mas seria de uma ineficácia na vida concreta que a tornaria ridícula, simples assim.

Não buscamos o caminho mais fácil, o denominador comum, o consenso falso. Mas temos sempre a realidade, o possível como foco . Queremos uma universidade melhor hoje. Não queremos esperar o novo homem para construí-la. Cada um sabe o que quer ser, quais suas prioridades, não cabe a nós mudar os alunos, cabe ouví-los e dá-los voz.

Davi Brito disse...

Anônimo, se "havia um outro mural para quem queria se sujar", então seu argumento sobre a finalidade dos murais ser a "de exibir o resultado do vestibular" e não outra não faz sentido. Se vc quiser refazer o comentário com coerência, ficarei satisfeito em responder.

Cara Bianca, acreditamos que o trote deva acontecer fora dos prédios, mas não acreditamos que seja humilhação. Se o calouro se sente humilhado, tem que ter o direito de parar de participar de delatar abusos.

E caro Daniel, já há respostas suficientes para seu comentário, mas, digo como opinião pessoal, que mudar o nome do trote seria tentar extingui-lo. Há conservadorismo nessa posição, sem dúvidas, assim como há conservadorismo quando vc defende qualquer coisa que já exista, isso não nos define como reacionários ou qualquer outro rótulo já demasiadamente impregnado de preconceitos. Não achamos que o trote seja uma prática ruim, se devidamente regulada. Temos que assumir posições e correr certos riscos, como o de ser taxados de incapazes de mudar algo.

Cordialmente, Davi.

Anônimo disse...

"Anônimo, se "havia um outro mural para quem queria se sujar", então seu argumento sobre a finalidade dos murais ser a "de exibir o resultado do vestibular" e não outra não faz sentido. Se vc quiser refazer o comentário com coerência, ficarei satisfeito em responder."


Todos os semestres tem duas placas com listas iguais com os nomes, seja no ceubinho, seja no teatro de arena. Elas tem a finalidade de mostrar o resultado do vestibular.

No dia que teve a manifestação, as placas se posicionaram em um dos murais. Se a maioria das pessoas quisesse se sujar, elas podiam subverter a finalidade do outro para se sujar. Apenas uma pequena parte das pessoas fez isso, a maioria preferiu se proteger atrás das placas.

Explicado?

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