segunda-feira, 4 de julho de 2011

UnB: A Natalie Lamour das universidades brasileiras, até quando?


*Por Mateus Lôbo

Semana passada fez quatro anos que eu entrei nesta Universidade; poderia ter entrado há seis meses e, certamente, teria a mesma impressão que tive em 2007. Qual seja: meu esforço pessoal e familiar de longos anos dera certo e agora eu estava numa das melhores instituições de ensino superior do meu país.

Todavia, semestre após semestre percebi que esse sonho chamado Universidade de Brasília poderia, muita vezes, ser um pesadelo, mas assim é a vida. Ora calma, ora turva. Entretanto, quando a turvação é permanentemente superior a calmaria, algo está errado.

E assim atualmente a UnB é, muito mais escuridão que clareza, muitas perdas e poucas glórias, um ambiente continuamente nublado. Quais as raízes disso?

Elas não estão, por certo, na queda do ex-Magnífico Reitor Timothy Mulholland. Até porque os timotistas de outrora, são os geraldistas de agora. E assim que deve ser, afinal a Universidade não é um palanque e o que basta a ela são administradores eficientes, com compromisso ético e acadêmico.

Então, novamente, quais raízes de nossa permanente perturbação? Sinceramente, não sei. Contudo, sei, muito pouco tem sido feito para acalmá - la. E assim de uma Universidade destacada caminhamos à insignificância. É-nos honroso estar fora do ranking das dez melhores Universidades do país? Qual o orçamento da Universidade Federal de Itajubá e qual é o nosso?

Hoje somos a Natalie Lamour, personagem ex-bbb da novela das 9, das universidades brasileiras: muito escândalo e pouco conteúdo. Embora a nossa atual Administração Superior tenha grande responsabilidade nisso, o restante da comunidade acadêmica também tem. Não chegamos por acaso à mediocridade; nós a elegemos.

Mobilizamos-nos contra cortes salariais, mas por que não há união, com a mesma intensidade, pela universidade? Talvez seja por medo ou pelo silêncio desdenhoso.

E assim em algum instante permitimos que colegas de departamento fossem juízes de outros colegas, que de professores respeitados foram a racistas indecorosos. Em algum momento nos furtamos a chamar o certo de certo e o errado de errado. Eximimo-nos de dizer que o universitário não tem uma moral superior e nem tudo lhe é concedido.

Em algum instante fizemos um elogio ao proselitismo e, assim, esquecemos que não há revolução sem estudo, não há revolução sem preparo de aula, não há revolução com picaretagem. Por várias vezes chamamos as sucessivas usurpações de espaços da Universidade de ocupações. Espaços da Universidade são privatizados, invadidos e tudo ainda parece se passar como num sonho, senhores?

Os conceitos forem invertidos e com eles o espírito da Universidade também. Atualmente o que somos? A Universidade dos pelados? A Universidade das invasões? Uma boca de fumo? Uma Universidade Achada na Rua?

As respostas para essas perguntas talvez tenham passado, se por conseguinte a inundação de Abril sobre a UnB apenas foi o grand finale de um belo navio há muito à deriva. Não chegamos ao high, mas chegamos ao fundo do oceano e ainda saimos na revista Veja. Bye, bye, Natalie Lamour!

O conteúdo deste texto é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Aliança pela Liberdade.

*Mateus Lôbo é estudante do 8º semestre de Ciência Política e representante discente no Conselho Superior Universitário (Consuni) da Universidade de Brasília.

7 comentários:

Thais disse...

Prezado amigo Lobinho, concordo plenamente com o fato de que qualquer mobilização que ocorra na UnB seja primordialmente a favor da UnB, para melhorar diretamente o dia a dia do estudo, da pesquisa e da extensão. Mas saibamos que a comunidade universitária é uma comunidade que, apesar dos pesares, pensa, e pensa muito, e defende causas. E todas elas tem o direito de se manifestar, peladas, achadas na rua, como forem. Protesto e ação não se excluem, na verdade um segue o outro, e eu acho que tem de haver protesto pra tudo, pra todos.

Mattheus disse...

Corri ao blog da Aliança, esperando, em meio às discussões em torno duma reportagem absurda, ouvir que, apesar de todos seus - muitos - erros, a Universidade não é aquilo que a propaganda da Abril tentou impingir... Ledo engano meu, pelo jeito. É mais fácil seguir a polarização barata e concordar com a Veja. Talvez nem mesmo por concordar com o que foi escrito, mas simplesmente seguir o inimigo do meu inimigo...

Estou longe de ser fã da atual reitoria. Ao contrário, creio-na idelógica, partidária, politizada e pouco afeita à eficiência e às questões cotidianas que afetam aos alunos. Em suma, eu vejo um espelho do governo petista na UnB. Mas autoritária? Fechada à discussões, como alegou agora o senador Demóstenes? Faz-me rir. Até arriscaria dizer o contrário, permissiva, pouco afeita a imprimir a força da lei, buscando agradar a todos e resolver pelo diálogo - o que não é ruim em si, mas a de se dar limites.

Em suma: defendam a UnB de Calúnias. Digam que a reitoria está errada, mesmo que não pelo que a Veja afirma. Mas não me venham dizer que acreditam que a UnB é autoritária. Ou retirem-se do CONSUNI, se acreditam nisso, pois senão, seriam vocês coniventes com o autoritarismo. No mínimo irônico para a Aliança pela LIBERDADE.

Mateus Lôbo disse...

Prezada Thais,
Em nenhum momento do meu texto digo que a comunidade universitária da UnB não pode manifestar-se quanto a causas que são longe dela ou que na UnB não há bem-pensantes. Se não estaria jogando contra mim, contra você e contra todos aqueles que se dispõem a construção do conhecimento. Não obstante, Thathao, é risível quando o militantismo ou dogmatismo substitui o conhecimento!

Caro Mattheus,
Peço que você releia o meu texto. Em que momento saio em defesa da Veja?
Em que momento digo que a UnB é autoritária como nas linhas da Veja?
Quando meu texto se alinha com a revista é para fazer uma análise da UnB atual. That's all!
Por fim, jamais me furtarei a criticar aquilo que eu bem entender e nas linhas que eu quiser. Sou representante no Consuni, pois fui eleito para isso, mas de acordo com princípios e um programa e ajo de acordo com eles.

Davi Brito disse...

Mattheus,

Esse texto foi escrito ANTES da reportagem da Veja ser lançada...
Das concordâncias, afirmo que NENHUMA foi percebida após a leitura daquela matéria que, sem dúvidas, foi sensacionalista ao extremo.

A reportagem tem seus infinitos defeitos, contudo, ela fala algumas verdades. Ocorre que essas verdades coincidem com algumas das coisas que vemos na atuação estudantil na UnB, coisas que, diferentemente das alegadas pela Veja, são paupáveis e correntes. Por isso nos manifestamos contra elas.

Essa é minha opinião, minha visão do grupo do qual faço parte e da universidade na qual estudo e atuo. Mesmo pessoas de dentro da Aliança pela Liberdade podem discordar.

Porém, reitero, esse texto NADA tem a ver com a Veja, qualquer interpretação em sentido contrário é simplesmente errada.

att,
Davi Brito.

Mattheus disse...

Farei aqui algo que sei ser pouco comum na internet, mas, que como universitários, devemos estar sempre prontos a dar exemplo: pedirei desculpas.

Explico: realmente esperava uma resposta à reportagem da Veja (e fico na espera, se ainda não veio, pois realmente, seu post veio antes da reportagem). Ao ver um longo texto batendo nas mesmas críticas de sempre - críticas que, assumo, sou também defensor - sobre a UnB estar envolta numa mobilização constante que mais parece água em ebulição - muito barulho, muita calor, pouco conteúdo - pensei, "pronto, depois do madraçal de esquerda, a revolução vazia. A Aliança resolveu que é um bom momento pra bater na reitoria mais um pouquinho".... Me enganei. Esse texto se encaixa melhor nas longas e reiteradas críticas que dão razão de ser ao movimento. Ou seja, ele não responde à Veja, mas continua a "tradição" dos textos anteriores.

Digo então que talvez tenha sido um bad timing. Que a Aliança deve, ou já deveria, ter se posicionado - especialmente depois do site da UnB inteiro ter virado um monumento à defesa ao reitor, que incluem tanto Gilmar Mendes quanto Cristóvam Buarque. E venhamos, pior que uma reitoria medíocre vai ser uma reitoria medíocre fortalecida, mais livre para praticar sua mediocridade. Acho que a maioria dos leitores e participantes da Aliança concordariam comigo nesse ponto.

Davi Brito disse...

Matteus, temos discutido seriamente tudo q está ocorrendo, mas sem provas (tanto para um lado quanto para o outro) é extremamente inconsequente se posicionar institucionalmente.

Somos muito gratos pelas suas desculpas, mostra que existe pelo menos um pouco de razoabilidade nas dicussões deste mar de problemas que vemos na unb.

No início do próximo semestre faremos uma reunião de apresentação de nosso grupo à UnB, divulgaremos pelo blog, twitter, FB e outros, mas vc está previamente convidado ;)

Att,
Davi Brito.

Aline disse...

Parabéns pela iniciativa e pelo texto.

Att.
Aline Gadelha

Blog da Liberdade