Do Jornal Zero Hora
Chapa que reúne estudantes ligados a PP, PSDB e PMDB vence após 40 anos de soberania esquerdista
Paulo Germano paulo.germano@zerohora.com.br
Paulo Germano paulo.germano@zerohora.com.br
Um dos maiores símbolos da esquerda gaúcha, o DCE da UFRGS agora rejeita o “Fora Yeda”, despreza passeatas e abandona o passado de militância. A eleição do fim de semana alçou ao comando uma chapa centrada no que ocorre dentro da universidade – e assim derrubou a esquerda após quatro décadas de soberania.
Encabeçada pelo estudante de Administração Renan Pretto, 19 anos, a chapa 3 – DCE Livre, Mudança Urgente – baseou sua campanha na despartidarização do DCE. Fazia cinco anos que o diretório era comandado por estudantes filiados ao PSOL, promovendo com frequência atos contra o governo do Estado.
– Enquanto se preocupavam apenas com “Fora Yeda”, corria solta a violência no campus – diz o novo presidente.
Mas Renan já trabalhou no diretório da Juventude do PP, embora ressalte nunca ter se filiado. Um de seus principais aliados na chapa é o ex-vereador de Dois Irmãos Marcel van Hattem (PP), hoje com 24 anos, eleito com apenas 18. Entre os integrantes, há também filiados ao PSDB e ao PMDB.
A eleição foi uma das mais apertadas da história – a chapa vencedora registrou 1.559 votos, apenas 35 a mais que a situação. Surpreendida pelo resultado, a esquerda perdeu porque se dividiu em três chapas, uma com filiados do PSTU, outra com petistas, e a já tradicional representante do PSOL. Cientista político e doutor em História, Mauro Gaglietti afirma que os estudantes rejeitam, cada vez mais, grupos que usam o DCE para promover partidos.
– Nem na ditadura isto ocorria. Naquela época, havia uma luta política saudável, mas não uma disputa por qual grupo apareceria mais. Havia politização, não partidarização.
A chapa de Renan promete diminuir o preço do cartão de ônibus para estudantes – de R$ 9 para R$ 3 – e um convênio com a Brigada Militar para garantir maior segurança nos campi. O jornalista Rafael Guimaraens, coautor do livro Abaixo a Repressão! Movimento Estudantil e as Liberdades Democráticas, afirma que estas são propostas tradicionais de quem defendia a direita nos anos 60 e 70.
– Essa visão de que estudante deve esquecer a política, lutando por melhoria de currículos, pelo equipamento das universidades, pela qualidade da educação, isso era o pessoal ligado à Arena que defendia.
Presidente do DCE da UFRGS entre 1968 e 1969, o deputado Raul Pont (PT) participou de passeatas e confronto com militares no centro de Porto Alegre. Diz não acreditar em organização de direita tentando tomar o DCE, mas reconhece uma nova composição de forças nos centros acadêmicos:
– Do ponto de vista democrático, pode até ser interessante.
“Só bater não resolve”
Renan Pretto - Futuro presidente do DCE
Natural de Lajeado, Renan Pretto tem 19 anos, cursa o terceiro semestre de Administração e mora na Casa do Estudante da UFRGS. A síntese da entrevista:
ZH – O papel do movimento estudantil mudou?
Renan – Possivelmente. Precisamos nos alinhar à realidade atual. Ficar só batendo no governo não resolve os problemas que temos. Às vezes, o estudante precisa de um auxílio para pleitear uma bolsa, de segurança dentro do campus, e o atual DCE não se preocupa com essas questões. O que vemos são ideias mofadas.
ZH – Qual será o envolvimento do DCE na eleição de 2010?
Renan – Não queremos posicionamento político nem dizer “fica” ou “Fora, Yeda”. Quando um representante do DCE diz algo assim, fala em nome de 23 mil pessoas. Nem todos pensam como ele. Pretendemos promover debates com os candidatos, para que os estudantes tenham acesso a todos os lados.
Um comentário:
Chapa 3 na UFRGS, e Aliança na UnB, pela priorização das demandas univesitárias pelos próprios universitários!
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