segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Desventuras Políticas e o começo do governo Dilma
Por Davi Marco Lyra Leite
Estudante de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília, pesquisador do Grupo
de Processamento Digital de Sinais e do Grupo de Pesquisa em Imagens Médicas.
O Brasil passa por um momento de transição entre dois modelos de gestão bem
distintos, mesmo que durante a campanha tenha-se falado o contrário. Sairemos do
governo Lula, com um presidente boa praça e totalmente político – sem experiência
administrativa, mas com um jogo de cintura inigualável -, para o governo Dilma
Rousseff – em que teremos uma burocrata como chefe de governo, com larga
experiência administrativa, mas sem a habilidade no jogo político, característica de seu
antecessor.
Nesse cenário, o que acontece agora é a montagem do novo ministério – apesar
dele ter muitas faces parecidas com o antigo e ser formado, em grande parte, por
indicações de dois (futuros) ex-presidentes (Lula e José Sarney) – já vemos algumas
escolhas pessoais da presidente eleita, mesmo que em número bem pequeno. E, nesse
processo de escolha de novos ministros, ou manutenção dos antigos, uma das grandes
novidades das últimas semanas foi a escolha, ainda não anunciada oficialmente, do
senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para a pasta de Ciência e Tecnologia.
Mestre em Economia pela Unicamp e professor licenciado da PUC-SP, Mercadante
desconhece a área de Tecnologia como a entendemos: “as ciências (exatas) aplicadas
à produção e à melhoria da qualidade de vida das pessoas”. Todavia, ele pode ser uma
excelente – senão uma das melhores - escolhas da presidente eleita. Por quê?
Comecemos pelo atual ministro, o competente e técnico Sérgio Rezende. Ele é doutor
em física pela maior instituição de pesquisa do mundo, o Instituto de Tecnologia de
Massachusets, o MIT, todavia não apresenta grandes aspirações políticas, visto já
ter chegado ao auge da carreira acadêmica, sendo professor titular da PUC-RJ e na
UFPE. Desse modo, por mais que entenda o que acontece nas universidades e na vida
acadêmica, falta-lhe a força para peitar as oposições e fazer valer a sua voz.
Nesse sentido, o senador Mercadante é bem diferente do atual ministro. Ele tem
duas características ausentes a Sérgio Rezende: o conhecimento do jogo de político
– dado pelos quase trinta anos de vida pública e por quase duas décadas atuando no
Congresso Nacional –; e a vontade de se projetar em cenário nacional – tendo em vista
que suas aspirações são maiores do que a vida como ministro ou senador, ele tem o
sonho de ser eleito governador de São Paulo ou conseguir, futuramente, uma cadeira
no Palácio do Planalto (seja como o titular do governo ou vice-presidente).
Desse modo, o ministro Mercadante pode imprimir uma nova lógica ao ministério,
fugindo do pragmatismo anterior, mas mantendo um viés técnico e competente.
Para isso, será necessário se aliar com pesquisadores e entusiastas da área que sejam
conhecedores das formalidades e do processo de desenvolvimento do país, além de
serem qualificados, hábeis e da total confiança do novo ministro. Esse aspecto será
essencial para que a pasta ganhe uma nova projeção, mas não perca as estruturas
atuais – que, mesmo precárias se pensarmos no contexto internacional e nas
potencialidades brasileiras, já representam uma melhoria graças a anos de trabalho
duro de cientistas e acadêmicos brasileiros.
Também acreditamos que ele pode atuar dando à pasta uma visibilidade nova no
cenário político brasileiro, visto que o ministro será o real protagonista dos trabalhos.
Além disso, ele chegou ao ministério devido à sua relevância dentro do Partido dos
Trabalhadores, ao invés de ter sido indicado por um padrinho mais forte, como no
caso do Dr. Sérgio Rezende – apadrinhado por Eduardo Campos, presidente do PSB,
governador reeleito de Pernambuco e, quiçá, futuro candidato à presidência da
República.
Esses pontos podem ser fatores determinantes para mudança das estruturas arcaicas
vistas no atual fisiologismo político. Vivemos um período em que se pensar em cargos
é mais importante do que se pensar no país; no qual o setor de Ciência e Tecnologia
é visto como acessório. Ninguém leva em conta que qualquer país desejoso de ser
desenvolvido deve investir em ciência para melhorar a produção, incrementar o
sistema educacional, melhorar a infra-estrutura de transportes, e, principalmente,
trocar o espaço de comprador de idéias para se tornar um exportador de inovações.
Mas lembrando que, para isso, o futuro ministro deve ter uma equipe competente,
ter um Secretário-Executivo atuando quase como um vice-ministro, com competência
técnica suficiente para auxiliar nas decisões da pasta e ser determinante para que o
Ministério não perca o seu viés técnico e se torne algo somente político.
Além de que, mesmo que seja importante a questão política para o trâmite da
pasta, os cargos de confiança devem ter o endosso técnico, as pessoas devem ter a
competência para exercer a função a que foram designadas, e não apenas ter o apoio
do partido – visando desenvolver um trabalho voltado ao crescimento da nação,
lembrando que o Brasil deve estar acima de qualquer partido político – a fim de evitar
problemas como aqueles ocorridos durante a gestão Cristovam Buarque em Brasília,
quando “companheiros” foram nomeados para cargos apenas por partidarismo e não
tinham condições suficientes para exercer as funções que eram esperadas deles por
parte do governo e da população.
Não tenho uma bola de cristal para dizer que sim ou não, mas torço, como apaixonado
pelo Brasil e desejoso de ver dias melhores para o nosso país, que essa escolha não
tenha sido só uma forma de acalmar brigas internas do partido e se mostre – como
tem a capacidade de ser – uma boa jogada da nova presidente.
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9 comentários:
Lembrando que as idéias do texto são de responsabilidade de seu autor e não necessariamente refletem a opinião da Aliança pela Liberdade.
Excelente!
Esse blog precisa de mais posts assim!
De fato, excelente artigo!
Faço minhas considerações:
1-Acho, como é natural ao PT, que o aparelhamento virá. A questão é sabermos que tipo de companheiro vai ser contemplado pelos cargos de confiança do MCT. Se em posições chave entrarem incompetentes ou ideólogos mais comprometidos com o mofo do que com resultados, daremos com os burros n'água.
2-Mas sua hipótese faz sentido. Felizmente há no PT uma turma muito pragmática, de bons estrategistas. Essa turma sabe colocar os mofados na gaiola e construir o caminho do poder por uma política de resultados. Nesse sentido, creio que um ministro de peso político com assessoria técnica qualificada pode fazer acontecer.
3-Se o otimismo prevalecer, restará apenas saber como a hegemonia desenvolvimentista do governo se comunicará/relacionará com o dinamismo do mercado, que tem grandes incentivos p/ inovações na pátria amada, especialmente no complexo do agronegócio.
De fato, textos contribuem para qlqr formação e em RH então, nem se fala, agraga muito para a praticidade. Para isso é preciso se qualificar, e em Brasília, para fornecer essa qualificação, vale a pena contar com o IESB.
Bom, sou bastante cético em relação a isso. Mesmo sendo o senador Mercadante um homem de currículo mais técnico, ele dificilmente amortecerá o abusivo cabide de emprego de militantes que só servem para balançar a bandeirinha de partidos políticos.
No que tange aos projetos futuros, também não vejo bons frutos. A presidente Dilma Rousseff já deixou claro que priorizará o programa de "Banda Larga" no País, que na verdade não passa de um amontoado de itens que garantem ao Estado uma interferência cada vez maior no processo. Ineficiência e corrupção são os resultados disso tudo....
Enfim, não entendo a finalidade da publicação deste artigo no Blog, que, pelo menos na minha opinião, apenas exalta sem necessidade a figura do senador Mercadante. Algo, aliás, sem nenhuma ligação com os interesses da UNB.
PS.: Essa é apenas uma crítica ao texto em si. Mas, de todo modo, sugiro a publicação de outros textos com caráter mais amplo para debates.
Murilo, explico e discordo, ou o contrário:
a nomeação do Ministro da Ciência e Tecnologia é de todo interesse p/ a realidade da UnB e dos seus. Acho que não preciso fundamentar isso, ou preciso?
A agenda política nos campos da Educação e C&T devem ter atenção dobrada neste blog.
Isso, André, muito bom que o Blog aborde a genda política nas áreas da Educação e C&T. Oxigeniza o debate e abre espaço para as novas ideias.
A minha crítica é apenas específica ao texto. Sou bastante cético em relação a essas mudanças "positivas" descritas no artigo.
Deco, também fui um dos que não gostei desse texto. Desculpe o autor, mas já li melhores no blog...
Não vejo otimismo em nenhum lugar. Aqui na unb inaugura-se um "beijódromo", corrupção por toda parte...
O tema tratado não vem em boa hora.
Apesar de não concordar com o texto, fico feliz que alguém se importe com isso.
Parece-me que o grande gargalo para C&T é a falta de mercado competitivo.
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