sábado, 31 de outubro de 2009

Abusar do abuso - Parte I

Nota dxs estudantes de Serviço Social da Universidade de Brasília

Por que ocupar?


A ocupação de sala realizada pelos estudantes de Serviço Social no dia 23 de outubro, cujo eixo central foi e é a necessidade de construção de um novo CA para o curso, suscitou um burburinho geral na UnB. Alguns, adeptos do chavão “estudante tem é que estudar, e não se meter em política”, afirmam que a ocupação é totalmente “ilegítima” e que os estudantes só querem “fazer baderna”, pois “esse negócio de CA não serve pra nada”. Outros até defendem o direito de organização política e de um espaço de vivência e sociabilidade entre os estudantes, mas asseguram que essa ocupação em particular teria sido essencialmente “autoritária”, pois, de forma “intransigente”, os estudantes resolveram “invadir” uma sala, sem qualquer debate prévio com as partes envolvidas, “atropelando os interesses de outros estudantes” e, o que é pior, o fizeram “desnecessariamente”, visto que já possuíam um CA. Os estudantes de Serviço Social avaliam que as duas teses apenas reproduzem um pensamento que, em última instância, serve aos interesses de um determinado setor acadêmico que simplesmente não conhece (ou parece não conhecer) a realidade da UnB, pois para cumprir suas funções dentro da universidade não precisa usar salas superlotadas e mal arejadas, tampouco esperar horas nas filas do RU para comprovar que sua estrutura física e administrativa é ineficiente. Nós, estudantes de Serviço Social, por outro lado, conhecemos muito bem essa realidade, e podemos afirmar, não apenas em teoria, mas por nossa própria experiência prática (através inclusive desta ocupação de CA), que o projeto de expansão conhecido como REUNI, que está sendo implantado em nossa universidade, representa um duro golpe na qualidade de ensino das universidades públicas de nosso país. Pra começar, lembremo-nos que as primeiras manifestações de repúdio à ocupação (sim, o que ocorreu foi uma ocupação, não uma invasão, e – pasmem! – uma ocupação deliberada democraticamente através de duas assembleias gerais dos estudantes de Serviço Social, com direito a defesa da não-ocupação, inclusive) não partiu de qualquer setor estudantil, mas sim da Reitoria. Esta, com uma postura autoritária, mandou seus seguranças que inclusive ameaçaram chamar a polícia para nos retirar da sala evidenciando mais uma vez sua demagogia do slogan gestão compartilhada “ocupe a UnB”, mas que, graças a nossa disposição em lutar por uma universidade verdadeiramente democrática, não surtiu o efeito almejado.

Os CA’s são historicamente entidades de articulação política, social, cultural e acadêmica dos estudantes, indispensáveis à formação intelectual e social e política destes. Nosso antigo CA já não comportava o número total de estudantes do curso há anos, e a situação só vem piorando desde o início da implementação do REUNI na UnB. No próximo ano, com o ingresso dos estudantes do curso noturno, o problema iria se agravar de tal forma que, nos parece, poupamos a Reitoria das consequências de um processo muito mais radicalizado e de implicações ainda mais profundas que o atual. Durante todo esse processo, todos os meios “legais” (procurações, etc.) foram acionados, porém a Reitoria se mostrou intransigente e jamais nos deu qualquer resposta. Entregamos também, recentemente, um ofício para a reitoria solicitando a realocação da aula de libras exigindo uma sala para esses estudantes.


O Serviço Social é a favor da Expansão Universitária!


Não nos opomos e não poderíamos nos opor a que novos alunos tenham acesso à universidade pública. E vamos além: acreditamos mesmo que a universidade, para ser verdadeiramente coerente com seu papel social, deve acolher dentro de seus muros os filhos da classe trabalhadora e a população pobre em geral. No entanto, não podemos confundir isso com a forma como esta expansão está se dando. O REUNI, aqui na UnB, prevê a duplicação do número de vagas na universidade, mas simplesmente não garante a manutenção da qualidade dos cursos. Isso fica bastante claro quando lemos no projeto que a construção de novos espaços físicos não está contemplada, o que na prática leva à destruição de banheiros, laboratórios e CA’s (como vem ocorrendo na Faculdade de Saúde, atualmente) para dar lugar a salas de aula. E o que é ainda pior: em muitos casos não há qualquer referência à contratação de novos professores! Ou seja, se o projeto não for barrado (e acreditamos que a mobilização dos estudantes deve ser a vanguarda desta luta) teremos várias salas de aula e o dobro de alunos; só não teremos laboratórios, professores e estrutura física o suficiente. Gostaríamos de ressaltar um fato bastante interessante a este respeito: grande parte dos estudantes mais ativos e engajados durante o processo de ocupação que vivemos são calouros! Em outras palavras, boa parte dos estudantes que, segundo a Reitoria e o Governo Federal, por terem entrado via REUNI, deveriam ser seus maiores defensores, estão na trincheira oposta, lutando junto a seus veteranos contra este projeto de expansão nefasto! Isso demonstra de maneira cabal que uma das estratégias do Governo ao implementar o projeto (gerar estatísticas, números vazios), embora possa ganhar inicialmente a simpatia dos trabalhadores e da juventude, mostra-se como um grande engodo, tomado a longo prazo.


Que expansão nós propomos?


Em primeiro lugar, nada de decretos! Há que se entender que o Reuni já começou errado: como implementar um projeto tão importante para a sociedade sem um amplo debate, sem consultar os estudantes, funcionários e professores, que são os setores que mais irão sentir seus efeitos? Se o Reuni é antidemocrático por si, como esperar que a Reitoria, responsável por sua implementação na UnB, garanta qualquer democracia? (quanto a isso, citamos o ocorrido no curso de Direito: bastaram 48 horas para a Reitoria determinar que o número de vagas dobrasse já no próximo semestre!) Por isso, nossa luta não passa pela “disputa” do Reuni, pois entendemos que um projeto tão deformado não pode ser disputado: deve ser rechaçado! Propomos a imediata revogação do Reuni. Que o debate sobre a expansão da universidade seja retomado, mas não nesses marcos. Que a autonomia universitária seja respeitada, bem como o direito de os estudantes, professores, funcionários e a sociedade em geral poderem expor suas idéias e o que pensam sobre a expansão, como ela pode ser implementada e – principalmente – tenham poder de deliberação real. Acreditamos que, se o Governo pretende expandir a universidade, primeiramente deve pensar em espaço físico, contratação de professores, laboratórios, etc., e não simplesmente em criar um número x de vagas e estabelecer metas que, se não forem cumpridas, comprometerão ainda mais a universidade. Além disso, os estudantes precisam ter espaços autônomos onde possam discutir assuntos acadêmicos, realizar atividades culturais, debater política e fazer novas amizades: os estudantes precisam de CA’s, e esse direito deve ser garantido!


Um problema seu! Um problema nosso!


Compreendemos que nossa ocupação, a princípio, possa ter causado certo transtorno aos estudantes que esperavam assistir a suas aulas na sala que agora é nosso novo CA. Por outro lado, nem por isso deixaremos de considerar nossa luta como legítima e necessária, dentro de um contexto mais geral de mobilizações contra o Reuni (ocupações de CA’s de Ciências Ambientais, Computação, Biblioteconomia, Desenho Industrial, luta na FA, na FS, etc, etc, etc) consideramos que nosso movimento de ocupação [e legitimo e conseqüente, afixamos na porta de nosso novo CASESO uma lista de salas vazias, que poderão ser utilizadas pelos estudantes para assistirem a suas aulas (não podemos optar por estas salas por um motivo funcional: a distância considerável de nosso Departamento). Quanto aos companheiros estudantes de Libras, propomos nos comprometer, num primeiro momento, que assistam a suas aulas e realizem suas atividades em nosso novo CA, justamente pelo fato de não termos tido ciência de que aqui se realizavam aulas especiais para deficientes auditivos. Inclusive, já encaminhamos um requerimento a Prefeitura nesse sentido, e nos somamos à luta dos companheiros por seu reconhecimento dentro da universidade e na sociedade. Temos ciência de que a transferência do ponto de vídeo conferência é perfeitamente possível de ser efetuada, e só podemos conceber a oposição em fazê-lo de imediato como uma tentativa de pressão psicológica e política sobre nossa ocupação, buscando dividir dois movimentos sociais legítimos (movimento estudantil e movimento em defesa dos direitos de deficientes físicos), como meio de jogar os demais estudantes contra nós. Não aceitaremos essa estratégia que visa desmoralizar e culpabilizar nosso movimento legítimo! Se estamos sendo obrigados a disputar salas com outros estudantes, os culpados certamente são outros: o governo federal e reitoria. Por fim, gostaríamos de ressaltar todo o nosso apoio e solidariedade militante aos companheiros que neste momento estão travando uma luta justa contra esse projeto de expansão da universidade, que não é nada mais que a expansão da precarização. Em especial, aos companheiros da UnB (Enfermagem, Medicina, Ciências Ambientais, Biblioteconomia, Direito, Ciências da Computação) que, como nós, vivem atualmente sob forte pressão por parte da Reitoria, mas que certamente jamais abandonarão a luta por uma universidade a serviço dos interesses da sociedade, autônoma e democrática.Não cederemos a qualquer tipo de pressão por parte da Reitoria, estamos dialogando com a comunidade universitária e exigimos o respeito a nossa luta.


Pauta da Ocupação do CASESO:


- Todo apoio às ocupações dos novos CA´s! Todo apoio a luta dxs estudantes!- Por uma expansão de qualidade! Não ao REUNI!- Por um novo projeto de expansão construído democraticamente!- Pela mudança da atual estrutura de poder na universidade!- Fora a polícia militar do campus!- Contra qualquer perseguição axs estudantes1 Pelo fim do jubilamento!- Fora Fundações de privadas da universidade! Não ao recredenciamento de qualquer fundação na UnB! - Em defesa da universidade pública, gratuita, laica e de qualidade a serviço da classe trabalhadora!- Pela radical democratização ao acesso às universidades! Pelo fim do vestibular!- Pela equidade de gênero. Contra o racismo, o sexismo e a homofobia!- Contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto! Comissão de Comunicação da Ocupação do CASESO 25 de setembro de 2009

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