quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

APARTIDARISMO E IDEOLOGIA:

Réplica da Aliança pela Liberdade
Ainda que discordemos de alguns pontos do texto Apartidarismo e Ideologia, assinado pelo estudante Guilherme Riscalli (graduando em Filosofia pela USP), não podemos negar que o texto é bem escrito e que suas críticas são bem fundamentadas. Como o texto faz menção a quatro grupos estudantis de quatro universidades (UFRGS, UnB, UFMG e USP) e o trata em bloco, essa réplica se restringe apenas aos pontos em que a caracterização geral não se aplica a Aliança pela Liberdade.

Se compreendemos bem, a tese central do texto é que “esses grupos emergentes” não se enxergam como parte de uma “diversidade política” e negam a existência “de uma partição específica num coletivo social”. O texto possui ainda outras teses secundárias, das quais destaco: (1) a negação da ligação “óbvia” desses grupos com os partidos conservadores (PSDB, DEM e PP) e (2) esses grupos escondem suas intenções e fazem da política uma questão meramente técnica (quer dizer, de eficiência).

Para nós da Aliança pela Liberdade sempre esteve claro que atuamos dentro de uma arena política (a arena universitária), cujo público (os estudantes) não é homogêneo. Ora, como poderíamos achar que somos os únicos a representar a totalidade dos estudantes, se vencemos uma eleição disputada por oito chapas, onde obtivemos menos de 30% dos votos?

O corpo discente apresenta uma enorme pluralidade de opiniões, de interesses, de prioridades e de valores; entretanto, mesmo entre os grupos mais diversos, acreditamos que é possível sim encontrar elementos em comum pelo qual todos podem trabalhar. Não temos a pretensão de ser a única voz dos estudantes e dois gestos da atual gestão exemplificam o que digo. Em pouco mais de um mês de gestão, o Conselho de Entidades de Base (órgão deliberativo com representação dos CAs) foi convocado 4 vezes, uma freqüência muito maior do que se viu nas últimas gestões. Outro gesto foi a indicação dos componentes do Orçamento Participativo, que em 2012 irá gerir 10% dos recursos destinados a Assistência estudantil. Ao DCE cabia indicar todas as cadeiras, mas por iniciativa própria a diretoria destinou 3 cadeiras para cada um dos novos campi da UnB — nos quais chapas oposicionistas venceram; 7 vagas foram indicadas pelo Conselho de Entidade de Base (CEB). Muitos dos eleitos fazem oposição a atual gestão, alguns deles oriundos de chapas concorrentes, ficando o DCE apenas com duas dessas cadeiras.

Se quiséssemos exercer o poder sozinhos, por que convocar tanto os órgãos onde a oposição pode exercer o poder? Por que dividir cadeiras com pessoas que não são da gestão e que nos fazem oposição? O que mais queremos é que a política estudantil reflita a pluralidade existente no corpo discente e para isso é fundamental revitalizar os espaços de deliberação. Preferimos prejudicar a nossa agenda e nossas propostas, se esse for o preço a ser pago pela revitalização do ME. (Como mostrei, as eleições anuais para DCE e RDs, momento de maior mobilização estudantil, 82% dos estudantes preferiram não votar, sendo que em 2009 esse número era ainda maior).

Sobre a ligação “óbvia” com os “partidos conservadores”, quais sejam, PSDB, DEM e PP. A atual gestão, no ato da posse, apresentou certidões emitidas pelo TSE que comprovam a não filiação dos seus membros. A Aliança pela Liberdade não proíbe o ingresso de filiados a partidos políticos (como se costuma repetir). O filiado pode ingressar no grupo, mas não pode assumir cargos no DCE, não pode ser representante discente, nem assumir cargos internos na Aliança. Mentir sobre filiação partidária, ou não atualizar informações, é punido com expulsão do grupo, pois consideramos que honestidade, antes de ser uma qualidade, é um pré-requisito para quem faz política. Se o filiado quiser cooptar o grupo no interesse de seu partido e usar o ME como trampolim político, sua vida será dificultada pelas normas internas: isso deve explicar por que filiados não nos procuram.
Cabe ao autor o ônus de provar a ligação com da Aliança com aqueles ou com quaisquer outros partidos políticos. Se o autor achar ligações dos demais coletivos com os partidos, isso nada prova a nosso respeito. A escolha de tratar esses movimentos como um bloco é do autor, mas isso não exime de provar as afirmações gerais para cada uma das partes.

“Sua pretensão é a de superar as disputas políticas e aparecer como chapa branca, neutra”. Não somos chapa branca, ou neutra, nem a representação de todos, simplesmente porque não acreditamos em nada disso. A política universitária se caracteriza por uma infinidade de questões (tais como segurança, assistência estudantil, regras de convivência, financiamento de pesquisas, infra-estrutura entre inúmeras outras) e em todas elas os estudantes se dividem. As diferenças são tanto de prioridades (ou seja, dos fins últimos das políticas) como diferenças técnicas (ou seja, divergências quanto ao resultado esperado de uma dada política).

Não negamos o jogo político e participamos dele, do mesmo modo que o fazem as chapas ligadas ao PT, ao PC do B, PSB, PSTU, PSOL, PCO, ou os coletivos anarquistas. Dizer que somos “invólucros sem vontade, a serem preenchidos, sem atrito, sem resistência, pelo rosto desse mítico ‘todos” é ignorar nossa história, nossa atuação. Recomendo a leitura do texto “Prestação de contas a comunidade acadêmica”, onde sintetizamos um ano de atuação do grupo. Foram mais de 60 textos, onde nos posicionamos sobre os mais diversos temas da política estudantil.

Em suma, compartilhamos com Guilherme Riscalli os mesmos valores e as mesmas referências. Apenas não achamos que a crítica se aplique ao grupo estudantil Aliança pela Liberdade. A representação do todo e a pacificação da política foram levadas a cabo, ao longo do século XX, por regimes de direita e esquerda, que suprimiram liberdades civis e políticas, instituíram o unipartidarismo e calaram as vozes dissonantes. Caro Riscalli, tanto nossos princípios como nossas práticas se opõem a essa “pacificação da política” e nós repudiamos tanto ideias como regimes que sirvam a essa distopia.

Saulo Maia Said
Membro da Aliança pela Liberdade desde 2009
Graduado em História pela UnB e mestrando em Ciência Política pelo IESP-UERJ (antigo IUPERJ)

Um comentário:

Anônimo disse...

O problema é a visão da Universidade como espaço da disputa política da sociedade. Na época da ditadura esta posição era razoável pois o espaço para disputa política estava fechado pelo regime. Desta forma Igreja, Universidade, Sindicatos, Clubes, Teatro tudo isto passa a ser canal da disputa política.

Com o fim da ditadura a reabertura dos canais políticos, partidos funcionando livremente e o congresso como palco da disputa política este fenômeno deve se reverter. Desta forma não se trata de uma onda apartidária, trata-se de devolver à Universidade sua função original.

A existência de CAs, DCEs e etc desvinculados de partidos políticos é tão normal quanto a existência de, digamos, clubes de futebol sem este vínculo. Não ocorre a ninguém apontar a diversidade social da torcida do Flamengo e a partir deste raciocínio propor que os candidatos a presidente do Flamengo estejam ligados a determinados partidos políticos.

Política partidária é importante, a sociedade dedica espaço e recursos para que ela ocorra. Está na hora da Universidade se dedicar a sua função.

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