*Por Saulo Said Maia
A divulgação do resultado do Processo de Avaliação Seriada (PAS) da UnB em 2011 culminou com um tumulto relacionado ao tradicional trote sujo. De um lado, a então gestão do DCE fazia uma campanha contra a prática, considerada humilhante. Em um dos cartazes utilizado para proteger os estudantes, lia-se: “Somos veteranos e não damos trote”. De outro lado, uma multidão de veteranos pintando os novos alunos, jogando ovos e trigo. No meio do ovo cruzado entre DCE e veteranos pró-trote, encontravam-se alguns calouros satisfeitos com a bagunça e outros procuravam abrigo atrás dos cartazes. (Reportagem da SECOM).
Um ano depois, muita festa, muita comemoração e nenhum tumulto. Por iniciativa do DCE-UnB, Gestão Aliança pela Liberdade, a divulgação do resultado do PAS 2012 foi realizada em dois ambientes. No Teatro de Arena, o tradicional trote sujo, com ovos, trigo e tinta. No ICC Norte, o DCE promoveu o trote limpo, com cama elástica, música, algodão doce, pipoca e refrigerante. Também foram distribuídas cartilhas sobre assistência estudantil, a fim de informar os estudantes em situação econômica vulnerável e auxiliá-los na obtenção do auxílio.
Como registro a reportagem da SECOM, mesmo com a elogiada opção do trote limpo, muitos estudantes optaram pela recepção tradicional, com tinta, ovos e trigo. Nas palavras da mãe de um dos aprovadas:
“Ele tinha um pouco de medo do que poderia ser o trote. Chegando aqui, ele pôde avaliar se queria ou não entrar na sujeira. Acabou se sujando, mas com liberdade de escolha”.
Quando o paternalismo do passado foi substituído pela liberdade (estratégia da atual gestão), ficou claro que o trote sujo não era (necessariamente) uma humilhação imposta aos calouros. É interessante contrastar as justificativas de uma estudante que participou do trote limpo com as outra que preferiu o trote sujo (presente na matéria da Secom).
Passei, graças a Deus. Agora vou voltar limpa para casa. Se eu tivesse suja, acho que não ia conseguir entrar no ônibus. Ia ter que ligar pro meu pai vir me buscar e acho qeu ele não ia me deixar entrar no carro. Ia ter que encher tudo de plástico, no mínimo. É bom voltar pra casa feliz e limpa".(Layanne Souza)
Já me jogaram ovo, tinta, bebida, energético. Tudo o que tem direito, né? Esse cheiro é o cheiro do dia que eu passei no vestibular. Espero lembrar dele pra sempre. (Desirée Pereira)
Mais do que criatividade e competência, o trabalho da nova gestão do DCE-UnB representa uma mudança de visão do movimento estudantil. No discurso de posse, o presidente da Aliança pela Liberdade já indicava que o objetivo do grupo era servir aos estudantes, em vez de dirigi-los. E assim foi feito na recepção. Não cabe ao DCE determinar pelos estudantes como eles devem comemorar a aprovação na UnB.
Noutros tempos, dissera um dos coordenadores do DCE: “A gente percebeu que tem uma maioria calada contra o trote. Esse é um momento importante para eles. Não tem que ter humilhação”, referindo-se ao trote sujo. A nova gestão prefere devolver aos próprios estudantes a capacidade de decidir o que é melhor para eles mesmos, assim como decidir o que consideram ou não uma prática humilhante. Não importa que eles tenham 17 ou 18 anos, eles não estão sob a tutela intelectual dos “iluminados” veteranos ou do DCE.
Em vez de protagonizar uma cena quixotesca e ineficaz de proteção aos que não gostam do trote sujo, a gestão Aliança pela Liberdade viabilizou (junto a reitoria) um outro mural de divulgação do resultado. É assim, com organização, competência e respeitando a inteligência e as preferências dos estudantes, que o DCE UnB dá as boas vindas aos novos alunos da UnB.
*Saulo Said Maia
Membro da Aliança pela Liberdade desde 2009;
Graduado em História pela UnB e mestrando em Ciência Política pelo IESP-UERJ (antigo IUPERJ).
Um comentário:
Achei fantástica a iniciativa. A bem da verdade, devo dizer que, ao contrário do que imaginava, a Aliança vem me surpreendendo positivamente em alguns pontos, e, em relação ao trote, fiquei muito satisfeito com a opção elaborada pela gestão. Dar autonomia para os estudantes tomarem suas próprias decisões é fundamental, faz parte do próprio processo de crescimento que o ingresso na Universidade impulsiona. Claro, sempre combatendo trotes que ultrapassam a linha da recepção lúdica e caminham em direção às situações onde a humilhação é evidente. Apesar de ter discordâncias políticas com a Aliança, meus parabéns para gestão. Espero que continuem abrindo espaços nos quais a opinião de cada estudante possa emergir e orientar a atuação de vocês.
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